Já passamos da marca de 100 dias de 2024. Em qualquer ambiente que se preze pela boa gestão, esse marco é relevante. Isso me lembra do primeiro livro que comprei na Amazon: lá, não eram 100 dias, mas 90 — “The First 90 Days: Proven Strategies for Getting up to Speed Faster and Smarter”.
Confesso que essa marca tem me incomodado e, às vezes, até me causado certa angústia.
Uma das minhas metas para 2024 — e aqui uma breve informação relevante: não costumo fazer metas de Ano Novo; acho um tanto clichê e blazé. Mas desta vez, decidi estabelecer alguns objetivos, e um deles começa exatamente agora.
Nos últimos sete anos, uma psicanalista me incentivou a escrever sobre tudo que me afetava: tristezas, dores, arrependimentos — e, por que não, alegrias, vitórias, conquistas e reflexões. Tenho um acervo desses textos guardado.
Nunca imaginei torná-los públicos, mas no ano passado fiz um teste. E essa ideia persistiu em minha mente durante 2023. Talvez seja por isso que decidi que 2024 seria o momento de começar.
Inicialmente, pensei em iniciar no dia 31 de dezembro. Mas houve hesitação, medo, insegurança. Hoje percebo que ainda faltava maturação para aquele texto (já guardado há cinco meses). E talvez ainda falte para este. Escrevo sem saber se realmente tornarei público.
A grande verdade — e por isso o título “disclaimer” — é que este texto funciona quase como uma justificativa antecipada para minhas próprias angústias sobre o que virá. Soa ousado imaginar que posso acrescentar algo relevante, considerando tantas outras pessoas que têm muito mais a oferecer. Não darei nomes; são inúmeras.
Sou apenas alguém comum. Sempre quis voar abaixo do radar. Talvez tenha tido oportunidades ou privilégios acadêmicos, talvez uma carreira relativamente bem-sucedida. Mas nada disso importa quando se escreve com pessoalidade: expõe-se medos, angústias, incertezas e fragilidades.
Em um mundo de tempos líquidos, como dizia Bauman, quando havia apenas o Facebook — ainda distante da inteligência artificial, posts com filtros e agendas mercadológicas, textos estrategicamente publicados para gerar engajamento, escritos por ChatGPT ou ghostwriters — aqui estou eu, de cara limpa (confesso, com um pouco de falta de coragem). Sem artificialidades ou artifícios. Provavelmente com erros de coerência e coesão.
A hesitação para escrever este disclaimer foi grande. Foram necessários dois dias de férias emendados com o final de semana, em um lugar neutro, na tentativa de buscar inspiração e aliviar aquele frio no estômago. Tola ilusão: inspiração é suor, e o frio sempre estará presente.
Brené Brown (sim, haverá muitas referências a ela) citou, em uma conferência da 99U, um discurso de Theodore Roosevelt (traduzido):
“Não é o crítico quem conta; não é o homem que aponta como o forte homem tropeça, ou onde o realizador das ações poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está realmente na arena, cujo rosto está manchado por poeira, suor e sangue; quem se esforça valentemente; quem erra e falha repetidamente, porque não há esforço sem erro e falha; mas quem realmente se empenha; quem conhece os grandes entusiasmos, as grandes devoções; quem se dedica a uma causa digna; que, na melhor das hipóteses, conhece o triunfo de grandes realizações, e que, na pior, se falhar, pelo menos fracassa enquanto ousa muito, de modo que seu lugar nunca será com aquelas almas frias e tímidas que não conhecem a vitória nem a derrota.”
E conclui, segundo Brené Brown (traduzido):
“Não é sobre vencer, não é sobre perder; é sobre mostrar-se e ser visto”, estar vulnerável e disposto a enfrentar as consequências. E finaliza de forma certeira: “Se você não está na arena, disposto a enfrentar as consequências, eu não estou interessado no seu feedback.”
Então, encerro meu disclaimer: haverá erros, pessoalidade, corporativismo, críticas, sofrimento, elucubrações, emoções — haverá o que eu quiser. Este espaço é meu, e eu decido como utilizá-lo. Se você não estiver disposto a oferecer críticas construtivas, e apenas criticar por criticar, também não estou interessado. Eu vejo, escuto, mas isso não me afetará.
Vergonha, insuficiência e comparação sempre estarão na primeira fila de críticos.
E sim: sou à moda antiga. Coloco data e local quando escrevo.
Balneário Camboriú/SC/Brasil, 13 de abril de 2024