Hoje, no Dia dos Pais, escrevo sobre três figuras paternas que não são apenas exemplos de paternidade, mas também homens de negócios, empreendedores, visionários e profissionais éticos, modestos, honestos, e detentores de uma inteligência admirável: meu pai, meu avô Hamilton e meu tio Edu.
Meu pai
Meu pai é o homem mais inteligente que conheci em minha vida. Parte dessa percepção pode vir do viés da relação sanguínea, mas grande parte se deve à maturidade e à capacidade de observação que sempre demonstrou.
Papai veio de uma família privilegiada para a sua geração. Filho de funcionário público, meu avô Zito, e de uma mulher determinada, minha avó Deja, todos os seis filhos nascidos nas décadas de 50 e 60 tiveram acesso ao ensino superior.
A história de meu pai se confunde com a de minha mãe. Começaram a namorar ainda adolescentes, por volta dos 15 anos. Meu pai morava em Campinas/SP, e minha mãe em Ituiutaba/MG. Sempre que podia sair da Escola de Cadetes, Mauricio partia para o interior de Minas, chegando até a ir de trem visitar dona Regina. Contrariando a percepção da mãe, meu pai escolheu cursar engenharia civil em Uberlândia/MG para ficar próximo da namorada, que estudava em Uberaba/MG. Após a faculdade, casaram-se e foram felizes juntos.
Logo após o casamento, durante o governo Collor, voltaram para Ituiutaba/MG, já com minha irmã mais velha e eu a caminho. Papai mergulhou na vida agropecuária, apesar de não ter familiaridade com o campo, seguindo os passos de meu sogro e aproveitando o que o setor poderia oferecer em tempos políticos difíceis.
Sob a orientação do meu avô Hamilton, ele aprendeu rapidamente sobre o mundo rural. Logo identificou uma oportunidade inédita na cidade: leilões de gado, que se tornaram seu foco por 15 anos, junto com outras atividades agropecuárias. Apesar do trabalho pesado, papai sempre foi entusiasta da tecnologia: aos 65 anos, ainda possui o último iPhone, Apple Watch e fazia aulas de inglês usando AirPods.
Nos leilões, eu e minha irmã tivemos nosso primeiro “emprego”. Entre 1995 e 1997, ganhávamos R$2,50 por registrar, em computadores, os preços dos lotes de gado e os compradores, imprimir duplicatas e buscar assinaturas. Era tecnologia de ponta para a época. Meu pai nos permitia essa experiência, mesmo que ganhássemos muito menos que os funcionários.
Quando MBA ainda era algo distante e caro, papai retornou à universidade e fez seu MBA em Agribusiness. Nunca se contentou com o óbvio, e acredito ter herdado fortemente essa inquietude.
Por volta de 2004-2005, Ituiutaba/MG sofreu o impacto das usinas de cana-de-açúcar, reduzindo a atividade agropecuária. Com três filhos, papai precisou se reinventar. Primeiro entrou na atividade leiteira e, paralelamente, retomou sua carreira como engenheiro.
Foi um dos grandes produtores de leite da Nestlé, com mais de 2 mil litros por dia até 2011, e depois surfou a onda imobiliária provocada pela instalação da UFU, construindo 100 apartamentos em bairro novo, além de postos de saúde, casas populares, praças e hospitais. Durante a pandemia de COVID, trabalhamos juntos até 2023.
Em 2011, papai encerrou a produção leiteira com um leilão de liquidação do plantel. Sua vida em Ituiutaba começou por amor a minha mãe, Dona Regina, e sua devoção é impressionante.
Meu pai sempre teve mais vitórias do que derrotas. Precursor no leilão, na pecuária leiteira e na incorporação imobiliária, ele sempre soube quando entrar e sair de cada negócio. Hoje, continua trabalhando em sua construtora, com tecnologia, dirigindo sua Dodge Ram e mantendo conversas sobre fundos de investimento com conhecimento invejável.
Meu avô Hamilton
Vovô Hamilton, homem simples, com dez irmãos, sequer terminou o ensino fundamental, escolha própria em meio a irmãos que estudaram. A característica mais marcante dele era a devoção ao trabalho. Começou com pouco e multiplicou seu patrimônio várias vezes.
Hamilton e vovó Marizinha eram uma dupla imbatível: ele, o CEO; ela, o CFO. Casaram-se cedo, moraram em casa simples e trabalharam incansavelmente, mantendo discrição e uma vida de princípios.
Tive o privilégio de acompanhá-los no mundo rural, observando negociações, tratores, vacinas e todo o funcionamento de uma fazenda. Em 2019-2020, durante a COVID, quando ambos ficaram isolados, mergulhei de fato nos negócios do vovô, aprendendo sobre operações rurais, fornecedores e negociações.
O respeito e a credibilidade que o nome “Seu Hamilton” gerava eram incríveis. Mecânicos, fornecedores, todos falavam dele com admiração. Vovô também era devoto de vovó Marizinha: até sua partida, ficavam sentados de mãos dadas, demonstrando um amor que durou mais de 70 anos.
Hamilton foi um homem de família, caridoso, sensível e altruísta.
Tio Edu
Tio Edu, irmão mais velho de meu pai, é para mim um segundo pai. Estivemos próximos especialmente quando me mudei para São Paulo, e nossa convivência cresceu nesse período.
Engenheiro de carreira invejável, foi inspiração no mundo corporativo. Suas orientações sempre foram valiosas, mesmo quando nem sempre as segui. Tio Edu e tia Mônica são exemplos de pessoas finas, gentis e devotas à família. Sua dedicação ao filho Gu é inspiradora, reforçando a paternidade como um dom da família Bernal.
Fim
Para muitos, este texto pode parecer irrelevante. Para mim, é fruto de introspecção. Sou, humildemente, muito parecido e muito diferente das figuras paternas que convivi. Sou resultado do que observei e vivi. Muitas vezes escolhi caminhos distintos, e talvez por isso nossas visões diferem. Nem melhor, nem pior. Diferentes e, por que não, complementares.
Florianópolis/SC/BR, 11 de agosto de 2024